Vida e fuga de Belle Gunness

Conheça a história de uma das assassinas em série mais mortais dos Estados Unidos. Com cerca de 40 vítimas, o destino de Belle Gunness permanece um mistério.

Charles Perrault, em um de seus livros, presenteou o universo dos contos de fadas com a história de Barba Azul, um terrível nobre que assassinava todas as suas esposas. Desavisada, uma jovem aceita se casar com ele. Após casados, Barba Azul tem um único pedido estranho: a moça não deveria entrar em determinado aposento de sua casa. Enquanto seu marido estava viajando, entretanto, a curiosidade falou mais alto e a jovem entrou no cômodo, e o que descobriu lá poderia por fim a sua curta vida: era o cômodo onde Barba Azul guardava suas outras esposas. Todas mortas.

Ilustração de Barba Azul de Gustave Doré

A lenda de Barba Azul tem uma série de possíveis origens: de Gilles de Rais, notório assassino de crianças do século XV, a uma obra de São Gildas, chamada “Conomor, o Amaldiçoado”. que data do século VI. Podemos pensar que uma história dessas teria ficado presa nos séculos passados e remotos, mas só até conhecermos a história de Belle Gunness, conhecida como Lady Barba Azul.

A DarkSide Books inaugura sua nova coleção, Lady Killers Profile, com um perfil minucioso e fatal sobre Belle Gunness. A pesquisa dedicada e sóbria de Harold Schechter, figurinha conhecida entre os leitores de true crime, apresenta a história conhecida de uma mulher que assassinou e desapareceu com o corpo de diversos maridos e pretendentes.

De acordo com a maioria dos pesquisadores, Gunness nasceu Brynhild Paulsdatter Størseth, em novembro de 1859, na Noruega. Se mudou para os Estados Unidos em 1881, e alterou seu nome para algo mais americanizado, de melhor entendimento. Nascia então Belle, mais tarde assumindo o sobrenome Gunness de um de seus maridos, uma das maiores assassinas em série dos Estados Unidos. 

Assim que chegou aos Estados Unidos, Gunness foi para Chicago viver com a irmã e o cunhado, trabalhando como doméstica e depois em um açougue. Em 1884, Gunness se casa com seu primeiro marido, Mads Sorenson. Os dois possuíam uma loja de doces que, de forma misteriosa, acabou destruída por um terrível incêndio, na mesma época em que a casa da família pegou fogo. Por “sorte”, os dois conseguiram o dinheiro do seguro, prontos para recomeçar.

Belle Gunness

LEIA+: LIZZIE PEGOU UM MACHADO: A HISTÓRIA DE LIZZIE BORDEN

Mas essa não seria a última tragédia a se abater sobre Belle Gunness — e, conforme os “acidentes” aconteciam, mais e mais a vizinhança suspeitava da mulher.

Após o incêndio, os dois filhos do casal faleceram de uma complicada inflamação nos intestinos. Pouco tempo depois, Sorenson também faleceu, em julho de 1890, devido a uma hemorragia cerebral. As duas crianças tinham seguros de vida, bem como Sorenson, que tinha duas apólices ativas ao mesmo tempo. Suspeito, ein? De acordo com Belle, o marido havia reclamado de dores de cabeça e ela, muito prestativa, havia dado pó de quinino para amenizar a dor do homem, e quando checou novamente ele estava morto. 

Após receber por todos esses seguros, Belle Gunness se mudou para La Porte, Indiana, e comprou uma fazenda de porcos, quando conheceu seu segundo marido, Peter Gunness.

Peter e Belle se casaram em abril de 1902. Na semana seguinte ao casamento, quando Peter teve que se ausentar da casa, a filha do casal morreu enquanto Belle tomava conta dela. Oito meses depois, foi a vez de Peter falecer devido a um ferimento no crânio. De acordo com Belle, Peter se machucou enquanto tentava alcançar algo e, de repente, uma estante caiu em sua cabeça.

Isso causou muitos burburinhos nas redondezas. De acordo com quem conhecia o casal, tudo parecia muito estranho, visto que Peter era um homem muito ativo e sempre realizava serviços em casa. Afinal, se tratava de um triste acidente ou assassinato?

Gunness e três de suas filhas

Foi em 1905 que Gunness começou a realmente caçar pretendentes, colocando anúncios em jornais, procurando homens afortunados que pudessem querer se unir com uma viúva com certo dinheiro e, assim, unir ambas as riquezas. Após os anúncios, os homens começaram a chegar — e, depois de um tempo, nunca mais foram vistos.

Começou com Henry Gurholt, um fazendeiro de Wisconsin. Depois de visitar a fazenda de Gunness, Gurholt escreveu à sua própria família e disse que tinha gostado muito de lá e pediu que lhe enviassem sementes de batata para o lugar. Quando ficou algum tempo sem entrar em contato novamente, a família de Gunholt tentou encontrá-lo através de Gunness, que afirmou que o homem havia partido com vendedores de cavalos até Chicago. Gunholt nunca mais foi visto, mas Gunness manteve sua mala e seu casaco.

Em seguida, em 1906, John Moe, de Minnesota, respondeu ao anúncio de Gunness. Moe chegou à fazenda após um longo período de correspondência, trouxe consigo uma grande quantia em dinheiro, e também desapareceu. 

Foi somente em 1908 que o reinado de terror de Gunness, aparentemente, chegou ao fim, quando sua casa passou por outro incêndio. Após as chamas serem apagadas, descobriu-se uma quantidade preocupante de ossadas enterradas na propriedade. Encontraram também um corpo de mulher com a cabeça decepada, que assumiram ser a própria Belle Gunness — o que provocou discordâncias entre membros da investigação, da perícia e da vida social de La Porte, Indiana.

Restos da fazenda de Gunness

LEIA+: CASAS MACABRAS: CONHEÇA O LAR DE MONSTROS DA VIDA REAL

Ao todo, acredita-se que Gunness foi responsável pela morte de cerca de 40 pessoas — entre crianças e homens que foram seus maridos ou pretendentes. Gunness também possivelmente se envolveu romanticamente com um homem chamado Ray Lamphere, que a teria auxiliado nas morte e que teria sido acusado de seu assassinato. Lamphere confessou que havia colocado fogo na propriedade de Gunness, mas confessou também que Belle teria mandado que fizesse isso e se encontrasse com ela depois, em um local determinado, para que os dois pudessem fugir. 

Então, de acordo com as confissões de Lamphere, tudo não passou de um plano para que ela pudesse escapar quando as coisas ficassem piores. Naquele ano, enquanto procurava por seu irmão desaparecido, Asle Helgelien encontrou correspondência dele e de Gunness, e afirmou que começaria a investigar a vida da mulher até encontrar seu irmão. Esse poderia ter sido o motivo para Belle agir como agiu, com medidas tão extremas,  queimando um corpo desconhecido e suas próprias crianças, até conseguir fugir. Quando descobrissem o que se passava, seria tarde demais.

Mesmo com essa confissão e com as afirmativas da perícia que aquele corpo poderia não ser o de Gunness, ela foi considerada morta. A cabeça decepada, que não estava junto ao corpo, jamais foi encontrada e maiores explicações não foram dadas sobre o caso. Diversas notícias sobre avistamentos de Gunness foram publicadas nos anos seguintes. A fazenda de Gunness, após os crimes, foi transformada em atração turística e o La Porte County Historical Society Museum (Museu da Sociedade Histórica do Condado de La Porte) tem uma área reservada à assassina.

Quanto à lenda de Barba Azul, a nova jovem esposa do nobre consegue armar uma armadilha para ele, e Barba Azul paga o preço por suas atrocidades. Entretanto, não podemos dizer o mesmo de Belle Gunness. O que realmente aconteceu com Gunness permanece um mistério. De acordo com as ossadas encontradas em sua fazenda, ela poderia desacordar suas vítimas com algum tipo de veneno e depois desmembrá-las e desossá-las. 

Lady Killers Profile: Belle Gunness é um registro fascinante sobre uma das mulheres mais mortais dos Estados Unidos. O livro faz parte da coleção Crime Scene e está disponível no site oficial da editora DarkSide Books.

Gostou de conhecer um pouco mais sobre Belle Gunness? Comente este post com a Macabra no Twitter e Instagram.

Compartilhe:
pin it
Publicado por

Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.