Ana Lily Amirpour e suas veias macabras

A diretora de Garota Sombria Caminha Pela Noite e Amores Canibais é um dos principais nomes do cinema independente.

Ana Lily Amirpour é uma diretora, roteirista, produtora e atriz que já tem uma marca própria e dispensa comparações. A cineasta de muitos talentos tem a pluralidade como uma característica pessoal: nascida na Inglaterra, ela é filha de iranianos e criada desde pequena nos Estados Unidos — exposta desde cedo a uma cultura bem diferente do que suas raízes persas.

Mesmo produzindo cinema de forma independente, Amirpour não nega a influência que recebeu da cultura pop norte-americana, principalmente dos anos 1980. Sempre que o assunto vem à tona em entrevistas, ela se empolga para listar seus ídolos: James Dean, Die Antwood, Michael Jackson, Madonna, Bee Gees, Sergio Leone, David Lynch, Francis Ford Coppola e Sophia Loren.

O aceno à carreira de cineasta veio logo cedo: entusiasta do audiovisual desde jovem, ela começou a fazer suas filmagens aos 12 anos, com a câmera do pai. Sem muita técnica ou um roteiro próprio, ela gostava de recriar os comerciais que assistia na TV.

LEIA+: DIRETORAS MACABRAS: AS SUBVERSÕES DE KARYN KUSAMA

A relação com vídeos sempre se deu de uma forma bem íntima. Ana Lily afirma que foi através do making of do videoclipe “Thriller”, do Michael Jackson, que ela passou a entender a cultura dos Estados Unidos. Nada mais justo do que um clipe com zumbis para explicar isso à jovem garota.

O estilo de Ana Lily Amirpour e Garota Sombria Caminha pela Noite

A cineasta acredita que filmes são como perfumes: “você passa e descobre quem vai atrair”. Neste aspecto, o perfume dela exalou uma fragrância ainda mais atraente com o curta A Girl Walks Home at Night. A produção virou o longa-metragem Garota Sombria Caminha pela Noite, que estreou no Festival de Sundance de 2014, chamando a atenção da crítica e dos fãs de cinema independente.

O filme é autodescrito como um “faroeste spaghetti vampírico iraniano”. Falado em farsi, o longa é ambientado na cidade fictícia de “Bad City”. Lá, uma vampira solitária persegue os cidadãos mais detestáveis. Além de escrever, produzir e dirigir, Amirpour também atuou na produção.

Uma HQ escrita pela própria Ana Lily foi lançada na época da estreia do filme, explorando a história prévia da protagonista. A arte é de Michael DeWeese e a publicação foi disponibilizada nas versões digital e impressa.

Uma característica bem marcante no trabalho de Amirpour é a alta estilização de seus filmes, além das escolhas criativas da cineasta e da mistura de suas diferentes influências culturais e de distintos gêneros cinematográficos. A escolha de protagonistas femininas também é frequente, principalmente pelo fato de a cineasta imprimir muito de suas vivências nas personagens.

Este tom quase autobiográfico faz sentido ao observarmos que suas heroínas normalmente vivem uma experiência de exclusão em seu próprio mundo. Em Garota Sombria Caminha pela Noite é observado um senso de isolamento emocional acompanhado de um senso moral da protagonista.

Muito da personalidade destas personagens é explicada através da música. Fã de artistas pop desde jovem, Ana Lily Amirpour diz que quando desenvolve estes papéis sempre pensa em canções que poderiam dar uma extensão melhor de quem eles realmente são

Apesar da trilha sonora marcante, os filmes dela são propositalmente escassos de diálogo. A cineasta atribui isso à própria deficiência auditiva: Ana Lily tem 30% de surdez. Ela não se importa com críticas quanto à falta de interação verbal em suas obras e acredita que isso só ocorre porque este tipo de silêncio deixa as pessoas desconfortáveis

LEIA+: PRIVAÇÃO DOS SENTIDOS: O NOVO HORROR CORPORAL

Outros trabalhos e os planos da cineasta

Desde o sucesso de Garota Sombria Caminha pela Noite, Amirpour dirigiu o longa Amores Canibais, além de outros trabalhos para a TV, como episódios de Castle Rock e The Twilight Zone

A diretora busca se manter envolvida com projetos que tenham significado para ela. Ainda no início da carreira, Amirpour havia assinado com agentes e empresários de Hollywood, mas mudou os rumos depois de uma experiência filmando um curta para o Berlinale Talent Campus, na Alemanha.

Seu próximo longa-metragem, intitulado Mona Lisa and the Blood Moon está na fase de pós-produção, mas ainda não tem previsão de estreia. Ele se passa em Nova Orleans e tem como protagonista uma garota com poderes inusitados que escapa de uma instituição psiquiátrica. O elenco conta com Kate Hudson e Ed Skrein.

Além deste trabalho, ela está envolvida na produção do remake de Risco Total (1993), sobre um alpinista que se vê em meio a um esquema de ladrões que tentam recuperar dinheiro que havia sido roubado. O filme original foi estrelado por Sylvester Stallone. A nova versão ainda está na fase de pré-produção e sem previsão de estreia.

LEIA+: O LEGADO DE DEBRA HILL: UMA DAS PIONEIRAS NA PRODUÇÃO DE FILMES DE TERROR

*

Gostou da matéria? Visite a tag Diretoras Macabras para conhecer o trabalho de outras diretoras do terror. Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

Compartilhe:
pin it
Publicado por

Renunciei à vida mundana para me dedicar às artes da trevas. No meu cálice nunca falta vinho ungido e protejo minha casa com gatos que afastam os espíritos traiçoeiros. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.