Morte Macabra: H. P. Lovecraft e seu diário da morte

Dos mitos de Cthulhu às cidades perdidas com habitantes estranhos, Lovecraft criou poderosos universos até o fim de sua vida. O que está no além?

Dos mitos de Cthulhu às cidades perdidas com habitantes estranhos, Lovecraft criou universos e conectou mundos e conceitos em uma teia de assombro e terror. E até seus últimos dias não parou de escrever.

Existem pessoas que lidam com a morte de diversas formas, ainda mais quando ela é anunciada, e aquele que a espera sabe quando ela deve chegar. Alguns ficam aterrorizados, alguns procuram uma forma de encontrar conforto, alguns fazem aquilo que sabem fazer de melhor. Lovecraft, que foi um homem quieto e introspectivo durante toda a sua vida, permaneceu assim ainda em seus últimos momentos. Diagnosticado com um câncer nos intestinos, o autor faleceu no dia 15 de março de 1937. Mas, durante o período de avanço de sua doença, Lovecraft manteve um diário contando sobre seus sintomas e sobre a forma que se sentia.

O interesse de Lovecraft por histórias surgiu na infância, quando o jovem foi incentivado por seu avô, Whipple van Buren Phillips, a ler. Vivendo com ele, sua mãe, Sarah Susan Phillips, e duas tias, Lovecraft cresceu recitando poemas e lendo histórias de horror. Desde cedo, também, foi muito doente, o que fez com que fosse um jovem que não saísse muito de casa, frequentando a escola bastante esporadicamente, mas sempre lendo bastante. 

Apesar da notoriedade da família da mãe, as coisas não ficaram bem após a morte de seu avô. Os recursos se tornaram escassos e as três mulheres, junto de Lovecraft, tiveram que se mudar para locais cada vez mais precários, o que acabou piorando o estado de saúde rapaz. 

Sua primeira obra profissional de horror, “Dagon”, foi publicada na revista Weird Tales em 1917. Desde então Lovecraft ganhou a vida escrevendo. Nem sempre recebendo bem por isso, e precisando fazer serviços de revisão e ghost writer, mas sempre escrevendo. Tinha uma relação íntima com a escrita, e uma das críticas mais profundas ao seu trabalho é como suas obras eram uma extensão de si mesmo, muitas vezes carregadas de preconceitos e racismos que o mesmo manteve em vida.

Jeffrey Combs como H.P. Lovecraft no filme Necronomicon: O Livro Proibido dos Mortos

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Suas relações interpessoais também aconteciam por meio da escrita, pois era amigo de diversos escritores de fantasia, ficção científica e terror. Entre eles Robert E. Howard, criador do personagem Conan. Conta-se que Lovecraft ficou terrivelmente abalado com o suicídio do amigo, recebendo a notícia pouco tempo antes dele mesmo vir a sucumbir pelo câncer. 

Não há uma cópia completa do diário deixado pelo autor. Entretanto, alguns tentaram fazer edições a partir das páginas remanescentes, sendo as mais conhecidas The Death of a Gentleman: The Last Days of Howard Phillips Lovecraft, editada por R. Alain Everts e Collected Essays, Volume 5: Philosophy; Autobiography & Miscellany, editada por S. T. Joshi. Além de alguns trechos de seu diário, esse último ainda possui um in memoriam para Robert E. Howard.

Durante sua vida, Lovecraft escreveu várias obras, conectou mundos, e permaneceu escrevendo mesmo em seu final. Se casou por um período de tempo, foi morar em Nova York, mas conta-se que Lovecraft odiava a cidade, retornando para Providence após seu divórcio. 

Lovecraft está enterrado junto de sua mãe em sua cidade natal, no cemitério Swan Point, no jazigo da família. Em seu aniversário de 100 anos, seus fãs se uniram para instalar uma lápide no local, que exibe a frase “Eu sou Providence”, retirada de uma de suas cartas. 

Lovecraft se tornou um dos autores mais lembrados dentro do gênero de terror, e muitos são os que foram influenciados por ele, como Neil Gaiman, Guillermo Del Toro, Caitlín R. Kiernan, e tantos mais. Indubitavelmente um dos autores de horror mais influentes da história do gênero.

Os mistérios de sua obra e sua vida se confundem e se misturam, bem como outros elementos que fizeram parte de sua escrita. Lovecraft possuía diversas opiniões controversas e prejudiciais, preconceitos contra raças e classes, que tem sido debatidas e discutidas hoje, com autores se debruçando sobre as questões e revisando suas histórias. Uma dessas revisões, Lovecraft Country é uma das estreias mais aguardadas do ano.

A série, com produção de Misha Green, Jordan Peele e J.J. Abrams, está prevista para estrear em agosto. Baseada em um livro de Matt Ruff, a intenção é utilizar características da escrita do autor, além dos locais em que se passam suas histórias na Nova Inglaterra, e tratar conceitos de raça principalmente nos anos 1950.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.