Diretoras Macabras: o luto e a morte pelo olhar de Anita Rocha da Silveira

Após uma perda na juventude, a vontade de explorar a morte e o luto pelo olhar adolescente se tornou peça-chave para o trabalho de Anita Rocha da Silveira.

Talvez um dos maiores temas trabalhados dentro do horror seja a morte. O ato de morrer, o medo da morte, a morte como o final do caminho, a morte como início. Tudo isso impulsiona cineastas a contarem suas histórias, a mostrarem ao que vieram. No trabalho de Anita Rocha da Silveira, entretanto, essa inspiração tem ainda mais força.

Mate-me Por Favor, um dos filmes nacionais de horror mais marcantes da última década, foi dirigido por Anita Rocha da Silveira. Seu primeiro longa é um dos principais trabalhos que a cineasta produziu no audiovisual, e traz elementos do horror com bastante presença.

Anita se formou em cinema pela PUC-Rio, e trabalhou como montadora e roteirista. Em 2012 participou do projeto Fábrica do Cinema do Mundo, uma parceria do Instituto Francês e o Festival de Cannes. Seu primeiro curta foi O Vampiro do Meio-Dia, gravado em 2008, no mesmo ano em que se formou. O curta não recebeu ajuda da faculdade para ser gravado, mas foi apresentado em festivais e recebeu uma série de prêmios, inclusive prêmios em dinheiro. Com isso, a diretora gravaria seu segundo curta, Handebol, lançado em 2010. O segundo curta também foi premiado, desta vez com o Prêmio Especial do Júri no Curta Metragem, Prêmio na Crítica Internacional no Festival de Oberhausen em 2011, e o prêmio de Melhor Curta-Metragem no Festival Panorama Coisa de Cinema. Seu terceiro curta se chama Os Mortos Vivos, e foi lançado em 2012.

As escolhas de Anita na direção não são aleatórias. Quando falamos sobre direção, nenhuma escolha é, mas por vezes podem ser inconscientes. No caso de Anita, suas escolhas foram deliberadas. Se nossas memórias, lembranças e contextos acabam inseridos em nossos trabalhos criativos de alguma forma, com Anita não foi diferente.

Anita conheceu uma grande amiga quando começou seu curso na faculdade. Ao conhecer Cecília, Anita conta que nunca havia sentido um vínculo como aquele com ninguém. As duas gostavam dos mesmos filmes, livros e tudo. Cecília era maníaca depressiva, e cometeu suicídio quando tinha 19 anos. Desde então, de acordo com Anita, isso ajudou a moldar seu estilo de narrativa. Após a morte da amiga, a diretora começou a pesquisar o tema da morte e do suicídio com afinco, e esses assuntos acabam presentes em suas obras, tanto em seu longa, quanto nos três curtas lançados.

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Todas essas produções têm elementos que se ligam à personalidade de Cecília. Bia, protagonista de Mate-me Por Favor, por exemplo, tem uma relação muito próxima com a morte e, de certa forma, parece buscar por ela.

Em entrevista ao site AiCinema, Anita conta que esses temas são caros para ela, os temas pessoais, a amizade feminina, o Rio de Janeiro como cenário, e como essas coisas estão relacionadas com sua própria vida. Quando era criança, Anita acompanhou a descoberta do corpo da atriz Daniella Perez, morta em 1992 pelo ator que fazia seu par romântico na novela em que atuava e sua esposa, e foi abandonada em um terreno baldio, próximo das locações que ela escolheu para seu filme, Mate-me Por Favor.

O filme recebeu prêmios nacionais, como do Festival do Rio, e recebeu prêmios internacionais, como o do Festival de Veneza. A crítica internacional, como a presente no site Variety, afirma que Anita tem um enorme controle sobre seu trabalho, com uma estética complicada, e um ótimo equilíbrio entre o som e o visual. O filme foi bastante elogiado pelos festivais que passou, como também pela crítica especializada e ainda hoje é citado como um dos melhores dos últimos anos.

Para a diretora, o filme nasceu de uma vontade de trabalhar o processo de luto e de como os jovens lidam com a morte, como conta em entrevista para a revista IstoÉ. Os personagens principais do longa são jovens, e todo o roteiro do filme se desenvolve a partir deles, dessa vontade de extremos e de conhecer tudo, saber sobre a morte, sobre o desconhecido, a curiosidade sobre a vida e sobre todos os segredos que a cercam. 

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A falta de diretoras no horror é algo que vem mudando cada vez mais, mas que ainda tem um longo caminho a percorrer. Em entrevista para a revista Claudia, Anita conta como foi sua vida durante a faculdade, com professores afirmando que mulheres deveriam permanecer na montagem dos filmes, e não como roteiristas e diretores, além de ter tido somente professores homens durante as aulas. 

Anita Rocha da Silveira é somente uma das muitas diretoras que tem feito filmes incríveis de gênero. E esperamos que, cada vez mais, diretoras, roteiristas, produtoras e especialista no gênero conquistem esse espaço. 

Curtiu conhecer um pouco mais sobre a trajetória de Anita Rocha da Silveira? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram. Conheça mais sobre a diretora através das referências utilizadas: Papo de Cinema, IstoÉ, AiCinema e Revista Trip.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.